domingo, 21 de novembro de 2010

A produção musical performática de Lady Gaga e polifonia

Tecendo relações entre os conceitos do Curso Cidade Polifônica, Culturas Juvenis e Arte Digital, do professor Massimo Canevacci - novembro de 2010


Aline Bogoni Costa


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Memórias da Emília: inquietações de uma alma-boneca

Iracema Munarim - doutoranda Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC
Rogério Santos Pereira - doutorando Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC


sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre Meshes of the afternoon – Gil Azeredo

O filme de Maya Dheren, Meshes of the afternoon, de 1943 nos apresenta um situação surreal, onírica, que nos prende, nos leva num movimento espiral de desdobramento dos múltiplos da personagem na trama. Estes desdobramentos se relacionam com os níveis dos espaços cênicos: a rua, a escada externa, a sala, a escada interna,  o quarto.

Durante todo o filme a presença marcante das sombras de cada objeto projetadas no chão, nas paredes, nos fazem lembrar de alguma forma o teatro de sombras chinês. Isto se evidencia na técnica de luz arquitetada pela artista.  Nesta película, tudo tem sombra. Ela é uma presença constante. E se não anuncia uma tragicidade,  antecipa uma ação.

A música de Teijo no filme nos reporta a uma poética da fragilidade, mas também de uma marcação que tensiona, introspecta, suspende e joga com a emoção também em niveis cíclicos.

Dheren compõe seu filme de uma maneira reflexiva que torna muito dificil distinguir entre sonho e realidade. Os jogos que faz com espelhos tanto em detalhes de reflexões em objetos, como o metal da faca e os vidros das janelas nos fazem pensar sobre a trasparência dos limiares, e nos trazem poéticas sobre uma existência fragmentada.

O contraponto entre ordem e espontaneidade, entre desejo e morte é a tônica do filme. Porisso, entendo porque ela repete praticamente o mesmo movimento mostrando o diferente numa trajetória semelhante, como numa tentativa de compreenção e de discernimento.

O primeiro movimento cênico nos anuncia como num prólogo sobre o que se sucederá. Seguindo o movimento das imagens, o foco do olhar, da câmera que valoriza uma faca sobre o pão e que cai abrupta em cima da mesa, nos surpreende nos mergulha nos mistérios e desse modo estamos preparados para o desfecho.

A presença importante de certos objetos como o jornal e o telefone abertos, alude para uma comunicação cortada (a garganta),  um trâmite análogo ao movimento de fora pra dentro da casa. Outros objetos como a flor nos dizem muito sobre a personagem, assim como a chave da porta que por várias vezes aparece, ou como referência de um falo, ou de uma fala que penetra e abre, entre perspectivas.

Vida e morte.

A este propósito o espelho que ora configurava seu duplo tanto numa imagem feminina de preto com a flor, quanto na figura de um homem, se quebra por um golpe decisivo e muito refletido. Esta quebra nos fala da efemeridade das coisas, das ilusões, e nos lança no inconsciente de um oceano também espelhado, mas móvel, das possibilidades.

A profundidade da penetração feminina talvez seja a coisa mais invisível.

Gilmar Azeredo - Mestrando em Educação e Comunicação PPGE-UFSC.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Análise do curta “Meshes of the Afternoon” - Daniela Novelli

“Tramas da Tarde”


Questões importantes para serem discutidas em sala:

1. Autobiografia cinematográfica: O filme é um bom exemplo de trabalho de vanguarda que une o cinema experimental à perspectiva feminista que ficaria conhecida anos mais tarde como feminismo de 2ª onda. Ao ver Deren como protagonista do filme, interpretei como se ela quisesse mostrar o papel político que acabou assumindo dentro da história do cinema americano já na década de 40.

2. Narrativa não-linear: A utilização de uma linguagem subjetiva e fragmentada revela estratégias de seleção, organização e produção de fatos feitas por Deren - personagens, cenários, ângulos de tomada, tempo, espaço, música (film noir). O estranhamento causado desde o inicio do filme nos convida a entrar em uma espécie de outra dimensão da realidade.

3. Questionamento dos papéis homem/mulher: Percebi uma intenção de mostrar a crise de identidade, a histeria, o transe, o ritual doméstico cotidiano como temas presentes nas relações de gênero. Os conflitos da diferença sexual (masculino X feminino) poderiam ser vistos como traumas subconscientes e inconscientes que afligem o sujeito unificado da modernidade, por isso pensei na critica do feminismo psicanalítico, para o qual o sujeito epistêmico clássico aparece fortemente marcado como “masculino”.

Assim, uma perspectiva feminista e psicanalítica pode fornecer uma interpretação do que acontece com a noção de cinema pessoal e autobiográfico quando a pessoa por trás das câmeras é uma mulher e do que acontece com a representação do outro. Pensei na máxima feminista de 2ª onda: "o pessoal é político" quando Deren parece questionar o papel da mulher como objeto e também resultado do desejo, principalmente no final do filme ou quando ela funde o pessoal com a sua experiência como mulher (pensar na repressão ou recusa da dificuldade em relação à própria sexualidade, sentimentos, emoções, ansiedades), mostrada sob a ótica de um expressionismo abstrato, fantasia, surrealismo, das experiências dramáticas e intensas vividas por uma mulher que se encontra em um lugar altamente definido por uma sociedade dominada pelos homens.

A força da representação da visão (quando grandes bolas aparecem no lugar dos olhos de Deren) associada à faca (que segundo a teoria de Freud é / pode ser o falo) evidencia o conflito homem/mulher pela inversão (estranhamento). O sonho pode ser em última análise, uma forma de Deren encontrar sua própria identidade pessoal neste relacionamento convencional. Ela se deixa levar por uma sensação de segurança quando despertada pelo homem e parece também sucumbir aos valores tradicionais de um relacionamento amoroso (heterossexual da década de 50). É quase como se fosse do homem o dever de "salvar" a mulher e fazer tudo melhor. Da mesma forma, é papel da mulher desempenhar uma mulher indefesa, que precisa do homem para protegê-la do perigo. Mas a grande ironia é que justamente quando aceita o “convite” do homem para subir, no final do filme parece desconfiar do mal que ele a faria, anunciado pela figura de capuz (a morte) e apesar de não ficar claro o que exatamente ela faz, fica a sensação de que ela muito possivelmente o matou.

4. Crise da identidade feminina: A famosa imagem de Deren atrás da janela com as mãos contra o vidro me remeteu à clássica representação de uma identidade idealizada de mulher, que provavelmente a própria Deren pretenderia alcançar (jovem, bela, doce, indefesa, sozinha), mas que é profundamente desconstruída no sonho, pois esta é uma cena superada pela força das outras imagens de mulheres ligadas a Deren (curiosa, audaciosa, corajosa, intensa, impressionada, atordoante, histérica, misteriosa). Acabei me questionando se o espelho não seria o correspondente à identidade, assim como a multiplicação do “eu” de Deren pelos vários duplos.

5. Experiência do familiar tornado estranho: Retratada no filme durante a construção da própria narrativa, mostrando alguns conteúdos de sonhos que podem ser compartilhados através da identificação que ocorre com quem assiste, como: perseguir um vulto e nunca alcançar, subir, descer ou cair das escadas de forma desorientada, tentar abrir uma porta com a chave e não conseguir, etc. Entendo que os sonhos foram pensados para ser símbolos do subconsciente, de nossos pensamentos, desejos e sentimentos mais profundos e acredito que essa seja uma perspectiva fundamental do filme. Mas ao mesmo tempo ela se assusta com todos os acontecimentos, como se através dos sonhos fosse a primeira vez que ela realmente percebesse seus sentimentos verdadeiros.

6. Experiência do déjà vu: Destaque para as retomadas constantes de cenas, que ocorrem, por exemplo, quando o homem (Hammid) realiza ações muito semelhantes que a figura encapuzada (morte?) havia feito em um dos níveis do sonho de Deren – subindo e colocando a flor na cama. É como se no segundo momento o homem oferecesse segurança, ao mesmo tempo em que na própria narrativa a mulher não dá sinal algum de confiança nem de prazer. Os objetos inanimados (faca, chave, flor) reaparecem em diversos momentos dos sonhos e acabam transmitindo uma sensação de coadjuvantes simbólicos para intensificar o drama emocional e psicológico da identidade feminina. A flor poderia representar a harmonia, o feminino e a totalidade de sua realização – e por isso tão perseguida por Deren no sonho, mas nunca alcançada; é roubada pela morte e no final é o homem quem a traz para casa, para a cama – e o que acontece? A flor vira a faca...

7. O final trágico: Após a cena em que a flor vira faca (na cama), quando provavelmente ela mata o homem, espelhos quebrados aparecem na praia junto às ondas do mar, representando na minha interpretação que se trata de uma ruptura de uma identidade feminina até então sustentada por Deren na relação. Por isso, no final, quando o marido chega na sala e a vê morta, com os cacos do espelho pelo corpo, fica claro simbolicamente que “a mulher que ele tinha até o momento não existe mais”,ou seja, é como se ela tivesse sido avisada pelos sonhos o quanto ele a fazia mal (acessando inquietações e revelações do seu próprio subconsciente/inconsciente). Como não fica claro se esta última cena é realidade ou ainda sonho, podemos interpretar essa transformação da identidade feminina como simbólica de um renascimento estranho e familiar ao mesmo tempo...

Daniela Novelli – doutoranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC).

Maya Deren - “Meshes of the Afternoon”

Maya Deren


Colaborou com as vanguardas. Explorou o tema do duplo, do fetichismo.  Filme de arte. Lírico, surreal.
Achar a chave para abrir o segredo deste filme é muito difícil.
Meshes of the Afternoon  (1943) 16mm, 14’, p&b, mudo (sonorizado em 1952 por Teiji Ito) - com Alexander Hammid.
A música , acrescentada posteriormente, aumenta a tensão.
Luz – Sombra
Location: rua, escada

O estranho

Sigmund  Freud  - ensaio de 1919 sobre  o conto de Hoffmann


Estranho, aquela categoria de assustador que remete ao que é conhecido, familiar.
Unheimlich - palavra ambígua.
Para Schelling , tudo que deveria ter permanecido secreto, oculto mas veio à luz.

Como o que é conhecido se transforma em estranho?